Detetive Noir

Iago Tanajura & Felipe McManus

No escritório mal iluminado por um velho abajur de mesa, vemos o protagonista sentado triste em sua escrivaninha segurando um charuto com a mão esquerda.
DETETIVE: "O fim do charuto começava a queimar meus dedos, mas não me importava. A imagem do rosto dela não me deixava sentir mais nada. Anestesiado por sua falta eu apenas sentia o frio solitário e indiferente do revólver que já havia me salvado antes. Ele poderia me salvar novamente, dessa vez contra aquela triste e cruel solidão."
A câmera desliza mostrando o revólver carregado em sua mão direita. O homem apaga o charuto num cinzeiro e fixa o olhar na arma enquanto puxa o cão gerando um clique metálico. A campainha toca e ele olha para o relógio que marca meia noite e depois para a porta fechada do escritório.
DETETIVE: "Um cliente. O tempo me ensinou que nada bom acontece nas madrugadas dessa cidade decadente. O tipo de homem que busca alguém como eu na calada da noite é o tipo de degenerado que aparece algumas semanas depois na coluna de óbitos do jornal. A morte teria que esperar mais um pouco antes de carregar minha alma condenada, tinha um último trabalho a fazer."
A campainha toca novamente. O homem guarda o revólver no coldre dos suspensórios e veste a jaqueta de seu paletó. Quando o detetive começa a se dirigir a porta ele para e olha o retrato preto e branco de uma mulher loira sorridente.
DETETIVE: "Eternizada na fotografia, ela me olhava. Seu sorriso caloroso me machucava com a dor da saudade, a dor cruel e profunda que atormentava minha existência."
Devagar, o homem abaixa o porta retrato com a foto virada para baixo. A campainha toca pela terceira vez e ele vai até a porta e a abre. A câmera segue o protagonista revelando, quando a porta é aberta, que o cliente se trata de uma dama loira de vestido vermelho e face preocupada.
DETETIVE: "Pensei em fechar aquela porta velha que nunca me trouxe nada de bom ao longo dos anos, dar as costas a ela e fingir que tudo desapareceria de imediato. Seu rosto frágil não me deixava fazer isso porém, sua pele pálida que tremia pelo vento frio da madrugada. Não seria certo."
Mulher de vermelho: - Graças a Deus você está aqui, tive medo de que não o encontrasse a tempo.
A câmera revela um recorte de jornal com um anúncio escrito: "Detetive Particular". Ele está na mão esquerda da mulher do vestido vermelho. Os olhos do protagonista percebem isso.
NÃO CONVIDAR ELA PARA DENTRO
CONVIDAR ELA PARA DENTRO